quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Eternamente futebol

Pegando Carona na Paixão da Torcida
A partir da década de 1970(em 1950 a Ceará Rádio Clube elegeu o locutor Paulo Cabral de Araújo prefeito de Fortaleza) tornaram-se comuns ex-jogadores, diretores de clubes de futebol e radialistas, principalmente, esportivos se lançarem candidatos a vagas no parlamento municipal, estadual, ou federal. “Os atletas usam o artifício de serem ou terem sido “ídolos” de suas torcidas; os dirigentes de times de futebol passam a utilizar como “bandeira política” o trabalho que realizaram pelos clubes que dirigem. Os candidatos radialistas esportivos, geralmente, torcem por um dos times detentores de grandes torcidas e, assim,passam a direcionar a programação esportiva da emissora em que trabalham ou o programa que comandam para a torcida e o clube de “ seu coração”. Eles se apresentam como “defensores” dos interesses da torcida e do clube pelo qual torcem. Esse procedimento renderá votos que lhes poderá garantir a eleição, embora a maioria não consiga alcançar seus objetivos. Mas também é verdade que muitos deles conseguem se eleger sem muito trabalho e quase nenhum investimento financeiro. Citemos alguns casos mais conhecidos: um dos pioneiros foi o comentarista esportivo Paulino Rocha que se elegeu deputado estadual em 1974, pelo antigo MDB com expressiva votação, sendo reeleito em 1978. Rocha soube utilizar com eficácia sua boa oratória e carisma além dos recursos de que dispunha: uma emissora potente de rádio e o horário nobre de TV. Ele abria o Jornal Nacional com o famoso “Dois minutos com Paulino Rocha”. Assim, não foi difícil angariar para si os votos da torcida do time pelo qual torcia:o Ceará.
Contudo, seu desempenho parlamentar não teve o mesmo brilho do de radialista esportivo. O principal feito de Paulino Rocha como deputado foi a pressão que exerceu sobre o governo da época para que a construção do Castelão fosse agilizada. Após a morte do deputado em 1978, vítima de câncer no pulmão, seu companheiro de equipe esportiva, mesmo não apresentando a mesma retórica e o mesmo carisma, seguiu os passos do colega falecido, “enveredando” também pelo caminho da política partidária .Porém, nas próximas eleições a briga pelos votos da torcida alvinegra,uma das maiores do estado, promete ser mais acirrada. Dois membros da diretoria alvinegra ( o presidente da Executiva e o presidente do Conselho Deliberativo) deverão se lançar a candidatos a deputado estadual e federal, respectivamente. Um deles pleiteia a reeleição. Não há momento mais oportuno para isto. A torcida do Ceará está em “lua-de-mel” com os principais responsáveis pela ascensão do vovô à Série-A, após 16 anos de ausência da elite do futebol nacional. A galera alvinegra parece estar disposta a pagar com o voto, a façanha realizada pela diretoria alvinegra. Não faz muito tempo essa mesma torcida ajudou a eleger dois ex-presidentes a deputado: Franzé Morais e Eugênio Rabelo.
Os ex-atletas políticos mais conhecidos são: João Leite, Roberto Dinamite, Túlio “Maravilha”, Ademir da Guia. E pasmem! Até Edmundo e Romário se filiaram a partidos políticos e prometem sair candidatos em 2010. Aqui em Fortaleza, dois “ídolos” da torcida do Ceará, o goleiro Adilson e o meia Sérgio Alves, também se filiaram a partidos políticos.
Não há mal nenhum que estes desportistas venham a candidatar-se. O problema principal é que a maioria deles, após serem eleitos, apresentam um pífio desempenho parlamentar. Parece que o propósito deles é conquistar prestigio, “status”, poder, “blindagem” e principalmente usufruir dos benefícios que o cargo oferece. Uma vez que foram eleitos por causa de sua popularidade, e não por causa de um programa de propostas, tais candidatos ficam isentos de cobrança por parte de seus eleitores.
Assim, não há necessidade de “mostrar serviço” (elaboração e apresentação de projetos que beneficiem a comunidade, defesa dos interesses populares, etc), pois sabem que” sempre” terão a seu dispor os votos de seus eleitores fãs, independente do que “façam ou deixem de fazer”. Entretanto, dos nomes citados há algumas exceções.Uma delas Trata-se do ex-goleiro do atlético (MG) João Leite, que ficou conhecido como “Arqueiro de Deus”. João defendeu o Atlético (MG) entre os anos de 1976 e 1981. Em 1993, elegeu-se a vereador por Belo Horizonte, elegendo-se em seguida a deputado estadual. O “Arqueiro de Deus” teve um destacado empenho parlamentar. Desenvolveu vários projetos, entre eles: “Projeto de lei de incentivo ao esporte”, “Criação do Conselho Estadual do Idoso”, e da proibição de fumar em espaços públicos fechados”, todos transformados em normas jurídicas. João era cognominado “Arqueiro de Deus” por ser evangélico.João Leite também tem formação superior em História.
Também é importante citar,conforme já foi dito, que muitos radialistas esportivos, diretores de clubes e ex-atletas não conseguem se eleger ou se reeleger. É o caso de Júnior Amorim em alagoas, Ademir da Guia que não conseguiu sua reeleição para vereador em são Paulo na última eleição . Aqui em Fortaleza alguns candidatos radialistas não conseguiram se eleger no último pleito.Mas há´por aqui um grupo de comunicadores que tem a eleição quase garantida: são os apresentadores de programas policiais. Pelo menos quatro desses apresentadores garantiram fácil, fácil, vaga no parlamento.O baixo nível de consciência política,provocado pela falta de investimento em educação,contribui decisivamente para que grande parte dos eleitores votem em candidatos por causa de paixão clubistíca e em apresentadores de programas que fazem da violência seu principal palanque político. Pode?
Marcos Antonio Vasco Rodrigues- É professor de Língua Portuguesa,escreve artigos,crônicas e contos. Participa do Programa Espaço Esportivo aos domingos de 14 às 16 pela ZYC 460 Rádio Luar do Sertão Fm 104,9